Conheça três negócios digitais que apostam em endereços físicos e na “multicanalidade” para continuar expansão
No começo de novembro, uma loja de acessórios para bichos de estimação, chamada Meu Amigo Pet, vai abrir as portas no Shopping Eldorado, em São Paulo. Os donos não precisarão se preocupar em criar um site para o empreendimento – justamente porque, no caso, a loja física é que foi criada pelo site deles, que veio primeiro. “As vendas no portal estavam crescendo no mínimo 17% ao mês, já tínhamos um faturamento anual de R$ 1 milhão no e-commerce”, diz Daniel Nepomuceno, CEO da Meu Amigo Pet.
Para Natan Sztamfater, alguns produtos precisam de consultoria "ao vivo" na venda
Após ver numa pesquisa que a existência de loja física influencia a decisão da compra online, o executivo resolveu apostar – claro, não apenas baseado na pesquisa, mas com planos mais ambiciosos, como criar uma rede de franquias. “Tínhamos sido procurados por empreendedores interessados em serem franqueados, mas não conseguiríamos franquear se não tivesse loja física”, diz. “O mercado de produtos para pets é pulverizado, há possibilidade de consolidação via franquias”, acredita.
A empresa é um exemplo de negócios virtuais que pularam para o mundo físico, como forma de continuar a expansão. “É um movimento válido para a maioria dos segmento, mas que precisa ser muito bem feito; na loja ‘real’, você vai precisar aprender a lidar com outro sistema de estoque, preocupações com limpeza e até clientes ‘espumando’ na sua frente”, afirma Marcelo Sinelli, consultor do SEBRAE.
Nepomuceno acredita que a experiência dos clientes da loja deva ser parecida com a da web. “Queremos que seja uma extensão do site. Fizemos treinamento para que os funcionários tenham tanta informação quanto nossa página, gravamos vídeos para passar na loja, vamos colocar terminais para acessar o site e estamos estudando colocar alguma forma de avaliação dos produtos nas gôndolas, como as ‘estrelinhas’ do e-commerce”, conta.
No caso do site “O Melhor da Vida”, que vende experiências como vôo de balão e salto de paraquedas, a aposta são quiosques em shoppings. Após faturar R$ 5,6 milhões em 2010, a empresa vai abrir três pontos no final de ano, para aproveitar as vendas do período – todos em São Paulo, nos shoppings Paulista, Higienópolis e Vila Olímpia. Até o final de 2012, ela planeja ter 30 filiais em operação. “Continuamos firmes no mundo online, mas abrimos um canal importante”, diz o diretor Jorge Nahas. “Estimamos que nosso mercado potencial cresceria cinco vezes se saíssemos para o ‘off-line’”, diz.
No caso do site de experiências, houve uma etapa entre a internet e o shopping: a venda direta, no modelo Natura e AVON. Há seis meses, eles contrataram 50 revendedoras que oferecem de porta em porta os produtos, impressos num catálogo. “Achamos que o ‘olho no olho’ ajudaria a vender esse tipo de produto”, afirma. A aposta parece ter sido acertada. Até agora, as vendas nesse formato já somam R$ 150 mil. “Esperamos que, no ano que vem, 15% do faturamento venha da venda direta”, diz o diretor.
“Do ponto de vista do marketing, em quanto mais lugares você estiver, melhor – online, físico, aplicativos, iPad etc”, diz Sinelli, do SEBRAE. Segundo o consultor, essa chamada “multicanalidade” – ou estar em diversos canais – é uma forte tendência para comércios e serviços.
Para Natan Sztamfater, diretor do site e loja PortCasa, só alguns negócios seriam apropriados para apostar num ponto físico. É o caso da empresa onde trabalha, focada em decoração. “No nosso ramo, a consultoria ‘ao vivo’ é importante. Já para produtos padronizados, com especificações bem definidas, como cosméticos, tênis e eletrônicos, às vezes a melhor estratégia pode ser permanecer só no mundo online”, argumenta. “Mas acredito que a ‘multicanalidade’ vá vingar para a maioria dos segmentos”.
A empresa de decoração já tem três lojas em shoppings – no Frei Caneca, Plaza Sul e Boavista, todos em São Paulo – e deve abrir a quarta neste ano. Mas o fôlego do negócio veio da operação online, que vende o mesmo que a melhor loja do grupo, no bairro do Bom Retiro. “O site sempre foi o coração do negócio, sem o faturamento dele no começo, nunca teríamos chegado aonde chegamos”, afirma.
Uma esperança comum a todos os empreendedores é que o movimento se retroalimente – e a loja física passe a turbinar também o e-commerce. “É um cartão de visitas para os dois sentidos: um canal serve de apresentação e validação para o outro”, resume Sztamfater.